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EU SOU

O SAMBA

Um batuque é sentido de longe. Dessa vez, o som que reverbera é um pouco diferente. É um grito que resiste. É como o barulho do coração acelerado de mulheres, que se aventuram a estar onde querem estar.

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Deixa eu cantar

Quem ouve o tilintar de um cavaquinho, o batuque de um pandeiro, o soar de um atabaque, sente no peito quanto o samba contagia. Originário do coração da África, o batuque e as danças negras deram origem às músicas. Dessa mistura de povos, de crenças e ritmos, surgiu o samba.
Sua história nos traz as marcas de resistência, alegria e tradições, que atravessam as memórias do país e marcam definitivamente a cultura brasileira.

 

Foi no Rio de Janeiro, no atual Morro da Conceição, localizado no bairro da Saúde, onde o samba ganhou a sua primeira casa.  Uma colônia formada por negros e mulatos baianos emigrados, que faziam da música um instrumento de manifestação, era liderada pelo primeiro músico e compositor que se destacou no meio - Hilário Jovino Ferreira. Hilário foi criador do primeiro rancho carnavalesco do Rio, o “Dois de Ouros”. Pouco depois, a colônia se 

TerreirosReportagem
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expandiu até a Cidade Nova, quando o samba foi batizado como ritmo musical,
nas casasdas “Tias Baianas”, onde aconteciam as festas dos terreiros,
as pernadas de capoeiras e as batidas nos pandeiros.

 

Tia Ciata é considerada uma das figuras mais influentes para o surgimento do samba no início do século XX. Mas só na década de 1930 o ritmo começou a ser aceito como cultura popular.
Em meio a toda dificuldade, “Madrinha Eunice” surge como a primeira mulher a presidir uma escola de samba, a Lavapés, localizada no bairro da Liberdade, em São Paulo. Embora esta ação tenha sido símbolo de vitória para as mulheres, foi só depois da década de 1960 que as sambistas conseguiram alcançar uma visibilidade dentro do universo musical. A começar por Clementina
de Jesus e Dona Ivone Lara, que se tornaram ícones.

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Embora o samba ainda possa ser visto com mais abrangência nos gêneros masculinos, o papel das mulheres é fundamental, principalmente para a difusão e popularização da música. Clara Nunes, Alcione, Leci Brandão e Beth Carvalho fortaleceram e marcaram a história do ritmo brasileiro. Essas referências além de terem aberto os caminhos, apadrinharam muitos sambistas, confirmando desde há muito tempo que o samba é feito por mulheres. Hoje as mulheres ocupam os espaços nas rodas. Percussionistas, cavaquinistas e cantoras embalam a selva de pedra levando sua força e representatividade. Mullheres como Maíra da Rosa, Ana Cláudia César, Laurinha Guimarães, Luana Gaudy e tantas outras ajudam a escrever as páginas da história do samba, a história da cultura brasileira.

E criaram raízes...

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Beth Carvalho

50 anos de carreira e uma discografia de 33 discos e 4 DVDs.

E por falar em cultura, berço e tradição, conheça a história de Maria Aparecida da Silva Trajano,
mais conhecida como Tia Cida dos Terreiros, a matriarca do samba paulista.

ouça uma playlist com

mulheres que inspiram desde 1960

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e  hoje, onde estão
as mulheres no samba?

nas ruas 

Se essa rua fosse delas, elas ocupavam e faziam uma roda.

De canto alto e harmonioso, com melodias marcantes e batuques certeiros.

Se essa rua fosse delas, elas dançariam, no meio da roda, no meio do dia, no centro de tudo.

Essa rua é delas.

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Em um cenário de resistência que, em 2015, surge o Festival Samba da Elis, fruto de um grupo de mulheres que se reuniam para aprender percussão. O projeto foi criado com o objetivo de empoderamento da mulher no samba. O evento acontece no bairro Butantã, na Zona Oeste de São Paulo, na Praça Elis Regina. É um lugar com forte cunho cultural, que tem tantos outros movimentos.  No primeiro domingo do mês, a praça recebe o encontro do Samba das Meninas. No segundo, o samba jazz, e no terceiro domingo de todo mês, ocorre o Samba da Elis.


O encontro das mulheres para fazer samba foi desenvolvido pelo coletivo “Voz e Vez delas”, uma organização atualmente composta por Jáfia Lacerda, de 33 anos, Yordanka Medina Armenteros, 40, e Priscilla Auilo, 35. Jáfia, além de ser bióloga, é estudante de direito, canta e toca pandeiro. Yordanka é biomédica, atua na área de pesquisa científica e é percussionista. Priscilla é jornalista e também se arranja na percussão.

O encontro na espera

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Apesar do festival acontecer apenas uma vez por mês, demanda muito trabalho, já que é totalmente voluntário e não tem financiamento algum, nem mesmo para os instrumentos musicais. A organização depende da doação dos equipamentos pela rádio Cidadã FM (87,5), ou pelo Centro Cultural do Butantã,
que são parceiros do evento. Fotógrafos e cinegrafistas
também são voluntários

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“Quando há presença de uma musicista, geralmente é motivo de estranhamento e ainda é visto como algo pouco comum”, afirma Priscilla Auilo. De acordo com Jáfia, aumentar a presença feminina nesses espaços é fundamental para trabalhar a representatividade feminina. “As mulheres precisam enxergar a roda como
um lugar para elas”
, completa.

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O evento Samba da Elis acontece em dois momentos: o primeiro é a formação de uma roda de samba aberta para acolher mulheres em processo de aprendizado, em que sambistas experientes generosamente ensinam e auxiliam as participantes sobre o cantar e o tocar, permitindo uma vivência de roda de samba. No segundo momento, um grupo de samba feminino profissional se apresenta.

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Sampa dança

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Passos soltos, embala o corpo e a alma. Roda, gira e rodopia. Com o objetivo de fortalecer o papel feminino
em uma de suas variações - o samba rock - mulheres promovem oficinas de dança, bate-papo
e encontros especiais entre dançarinas, produtoras, professoras de dança e amantes da cultura brasileira.

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Em julho de 2016, o movimento foi impulsionado por Camila Camargo, que após participar de um evento de samba-rock, em que apenas homens haviam sido reconhecidos e homenageados, ficou frustrada. Na ocasião, haviam muitas mulheres - professoras e dançarinas - que não foram citadas, foi aí que surgiu a ideia de criar o projeto Samba-Rock Mulheres.

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O projeto faz do samba-rock um instrumento de resgate da mulher no meio em que vive. Além de oferecer um espaço de reconhecimento, união e troca de experiências entre o público feminino por meio das atividades realizadas.

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Camila é formada em Comunicação Social, mas há oito anos vive pela dança. A dançarina conta que já ouviu de muitas profissionais que o reconhecimento masculino era uma prática extremamente comum, enraizada há muitos anos e que, dificilmente, isso algum dia iria mudar. “Acredito que ter boas referências é importante para a continuidade
e evolução do movimento. Pensando nisso, convidamos diversas profissionais do samba-rock
para, juntas, ministrarem oficinas de dança específicas para mulheres, ensinando, propagando
seus conhecimentos e abrindo espaço para a troca de experiências” .

Quem não gosta
de samba, bom sujeito não é

Sambalanço, swing, rock samba, e finalmente, samba-rock.
O estilo que surgiu no final dos anos 60 e tem a mistura do jeito brasileiro de fazer samba com a influência do rock'n'roll americano.
Jackson do Pandeiro, cantor e compositor, foi o primeiro a utilizar o termo “samba-rock” em uma de suas músicas em 1958.

 

Mas a batida urbana do samba-rock só aconteceu mesmo na década seguinte com a fusão do estilo musical
de Jorge Ben Jor e do Trio Mocotó. Logo em seguida, foram agregados ao samba tradicional
instrumentos elétricos e arranjos do rock e da soul music.

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O samba-rock deve ser entendido como  “dança”, e não como um gênero musical.
O ritmo é uma expressão corporal, visto como um bem cultural dos negros de São Paulo, onde a dança nasceu e se popularizou de forma espontânea e criativa, sendo considerada um fenômeno alternativo.

 

A dança é uma mescla dos passos de samba de gafieira com o movimento do rock’n roll e a fusão de ritmos americanos como jazz, bebop, soul, além do rockabilly. O estilo foi ganhando visibilidade e novos passos.
Geralmente é dançado em pares e quem conduz é o homem. Os braços são cruzados sobre a cabeça um do outro, em rodopios e movimentos curtos, que seguem uma batida ritmada, em quatro tempos.
As mãos ficam sempre unidas e os pés acompanham a batida do samba, sem nenhum passo aéreo.

 

Com o passar do tempo, saiu das zonas periféricas  e se tornou febre em shows, bailes e na indústria musical.
Nos anos 1980 e 1990, o samba-rock perdeu visibilidade, mas sempre esteve presente em bailes blacks, em bailes nostalgias e flashbacks como parte de sons tradicionais. Foi a partir dos anos 2000 que o ritmo passou
a ter o seu próprio espaço em circuitos, bares paulistanos, espaços culturais e, há quase dois anos,
faz da Avenida Paulista um dos seus mais novos redutos.


O evento Samba Rock na Paulista ocorre todo segundo domingo do mês, das 14h às 18h, em frente à Gazeta,
na altura do número 900 da Paulista. O projeto começou na Galeria Olido,
localizada na República, e reunia diversas pessoas.

Muitos projetos gratuitos estão espalhados pela cidade e acontecem periodicamente, promovendo a dança,
a interatividade e o aprendizado. A seguir, a localização e descrição de algumas destas atividades
que acontecem pelas ruas de São Paulo. Navegue pelo mapa e escolha uma para visitar!

no

carnaval

O coração transborda ao ver a cidade toda em cores.
Amores explodindo,
livres manifestações de exaltação e arte. Brilho que transcende,
que gruda no corpo e fica. Fica pra dar
 saudade... e que saudade! Das vozes cantando, do sorriso largo no rosto, da selva de pedra parada e unida para um só fim: festejar!

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Que seja o amor, o riso leve, a farra.. 

que seja a vida!

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das avenidas
àpresidência

A forma livre dos corpos envergonhados se transformam apenas em cenário durante o Carnaval. Isso, aliás, é parte que dá a real beleza dessa festa. No fim, restam as cinzas de uma quarta-feira que se esvai em purpurina para colorir o cinza de uma São Paulo monocromática. E como falar de cor, brilho, liberdade e amor, sem falar de mulher? Ao discutir o papel feminino no festejo, retomamos aos cordões carnavalescos que eram espécies de agremiações, onde a presença feminina só era notada do lado de fora dos desfiles.

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Hoje, a festa mundialmente conhecida pelos exuberantes desfiles de escolas de samba, tem muita mulher envolvida na organização. Desde passistas até presidentes, diretoras de alas, costureiras, instrumentistas na bateria, porta-bandeiras… chegando no sapatinho, sambando na pontinha do pé, elas conquistam pouco a pouco todas as funções dentro dos barracões. Ouça agora na reportagem de Thalita Ribeiro.

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BarracõesReportagem
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 “Quando começou escola de samba, começou com a Camisa Verde e Branco, e era cordão. Mulher não ia não. Era só homem, mulher ia do lado de fora com a cestinha de comida, com as crianças e demorou muito pra elas começarem a entrar. E entraram como? De vestidinho”, comenta a carnavalesca Maria Apparecida Urbano, 84 anos.

 

Quem frequentava os ensaios nos barracões, ficava mal vista pela sociedade. “Tinham muitas famílias que não permitiam que suas filhas fossem para escola de samba, porque diziam que aquilo não era ambiente para filha. E hoje não! Hoje as mulheres vão em tudo e não tem mais essa de que não tem ambiente pra mulheres”, conta a Diretora da Velha Guarda da Rosas de Ouro, Rita de Cássia Barbosa, de 58 anos.


Quem deu início para mudar essa história foi a Madrinha Eunice, fundadora da mais antiga escola em atividade, a mítica Lavapés. Para Rosemeire Marcondes, 51 anos, atual presidente da escola e neta de Madrinha Eunice.
“Nos tempos de hoje é normal a gente ter presidentes mulheres no mundo do samba. Mas, antigamente, quando era a época da minha avó, era muito difícil. Acho que a gente tem de continuar lutando para que as pessoas
entendam que nós fazemos parte disso”
, comenta.

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Outra escola conhecida por ser comandada por uma mulher é a Rosas de Ouro. Angelina Basílio, atual presidente da escola, confessa que suceder seu pai Eduardo Basílio, em 2003, foi uma responsabilidade grande. “Meu pai era um homem visionário, um administrador. Ele inovou muitas coisas no mundo do samba”, conta. “Sofri muita resistência, muito desmando, tive que trabalhar o triplo para provar que poderia ficar à frente da Rosas de Ouro. Porque em 2003 tinha muito preconceito em relação a presidente ser mulher. Falaram que eu ia acabar com a instituição”, relembra. A força para enfrentar todas as adversidades viria do próprio amor paterno, que preparou Dona Angelina para tudo. As más impressões só foram diminuindo, quando a associação ganhou o título de campeã em 2010.

 

Agora, quem acha que ser passista, se resume apenas em um padrão limitado a um corpo bonito, também está enganado. A diretora da ala de passistas da Tom Maior, Valéria Diniz, 40, relata a preocupação com a resiliência que existe nesse trabalho. “Especificamente na ala de passistas, como o meu público maior é feminino, a gente tem uma ligação mais direta, uma abertura maior para alertar e entender. Então a gente funciona também, além de ser chefe de área, a gente é conselheira, a gente faz até um trabalho social, com resgate na autoestima das meninas, que vai desde maquiagem, até a ensinar a se projetar pro mundo, postura, a ser autoconfiante.. e o retorno de tudo isso é o que reflete na vida pessoal delas, paralela ao Carnaval”, fala.

"eu fiz meu carnaval"

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As ruas residenciais e tranquilas do bairro da Bela Vista, em São Paulo, bem arborizadas e de comércio pacato, é o cenário visto da janela de um apartamento charmoso e organizado. Em um dos últimos andares mora Maria Apparecida Urbano, a Dona Cida - primeira carnavalesca da capital do estado. Hoje aos 84 anos, ela conta sua história, que se mistura com o samba e os batuques dos primeiros anos da folia na cidade. O gosto em fantasiar os filhos para as festividades da escola a levou para o meio da grande festa que é o Carnaval.

 

Homenagens e condecorações na parede do escritório de Dona Cida já dão uma ideia da sua ligação com o samba. A quantidade de livros publicados também - ao todo são seis obras. Uma manhã de conversa em pleno feriado nacional deu uma breve ideia da sua trajetória no Carnaval.

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- Vocês querem um café?

 

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Xícara branca de porcelana, decorada com pequenos triângulos azuis. A cada gole, um gosto novo de história. O que começou como um trabalho de Natal a levou para dentro de uma das primeiras agremiações de samba.

 

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- Fiz a vitrine natalina do Banco do Brasil do Ipiranga durante sete anos. No último ano [em 1975], o [carnavalesco] Laerte Toporcov da Imperador do Ipiranga viu a vitrine. Me perguntou o que faríamos com os artigos depois de desmontados e me convidou para a escola.

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Mas não só o patrono da Imperador do Ipiranga quis levar Dona Cida para dentro de sua escola. Entre sorrisos de orgulho, a carnavalesca conta que Izidoro dos Santos, da Vai-Vai, a convidou para fazer parte da agremiação. Ela ficou um período dividida entre as escolas, já trabalhando e desenvolvendo fantasias e alegorias. Por uma questão de localidade, Imperador do Ipiranga levou a melhor e Dona Cida ficou na escola até 1982.

 

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- Na Imperador, eu comecei a participar das reuniões, conheci o que é uma escola de samba por dentro. Como que se organiza, como se compra as coisas. Me apaixonei!

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Enfrentamento ao machismo e luta por seu espaço estiveram presentes desde o começo da história de Dona Cida como carnavalesca. No ano em que entrou para a Imperador do Ipiranga, ela participou de uma reunião de presidentes e carnavalescos na União das Escolas
de Samba de São Paulo, entidade recém criada  - e existente até hoje.

 

Dona Cida conta que foi a partir desse período (segunda metade da década de 1970) que passou a ser exigido o cargo de carnavalesco nas escolas. O comum, antes disso, eram as escolas de São Paulo se inspirarem em revistas da época que retratavam a folia no Rio de Janeiro. Era daí que saíam as ideias de fantasias e alegorias.

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- Eu fiquei entre os grandes do samba de antigamente, como Pé Rachado [Eduardo Amaral, sambista que foi presidente da Vai-Vai e da Barroca Zona Sul], seu Nenê [da Vila Matilde] e outros. E eu ali, no meio deles, branquinha e mulher.

 

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O fato de ser a única figura feminina em meio aos homens causou espanto, mas que Dona Cida conta com orgulho ter passado e enfrentado tal situação. A Imperador foi o pontapé de uma trajetória que seguiria por outras escolas, com ideias criativas e muita paixão pela cultura do samba.

 

Nenê de Vila Matilde e Peruche foram outras que receberam o olhar habilidoso da carnavalesca. Entre um barracão e outro, Dona Cida ainda ministrou uma série de palestras na Universidade de São Paulo (USP), na segunda metade da década de 1980. Esse foi outro espaço em que percebeu a falta de conhecimento da própria cultura paulista, a visão distorcida do homem para as mulheres do samba.

 

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- Uma das pessoas levantou a mão e perguntou: ‘Dona Cida, eu gostaria de saber como é que eu saio com aquelas moças que saem meia peladinha lá’. Aí eu olhei para essa pessoa e falei: ‘Pena que eu tô sozinha aqui, viu? Você quer sair com ela? Tente. Se ela tá peladinha em cima de um carro é porque tem um enredo que está pedindo isso’.

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E foi nesse espaço que surgiu o desejo de escrever e contar, em livros, a história da trajetória do Carnaval. O primeiro deles foi escrito em parceria com outra professora da USP, Yolanda Lhuller dos Santos, sob o título de  Arte em Desfile Escola de Samba Paulistana, em 1987.

 

Seguindo em sua trajetória, a carnavalesca se dividiu entre os trabalhos na escola Barroca da Zona Sul, a Federação Das Escolas de Samba e Entidades Carnavalescas do Estado de São Paulo (Fesec) e pesquisa de seus outros livros. Maria Apparecida escreveu sobre Osvaldinho da Cuíca, sambista e compositor, e passou a pesquisar sobre a trajetória do samba e Carnaval em São Paulo. Ambos foram publicados, respectivamente, em 2004 e 2005.

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Os demais livros empilhados em uma mesa de centro aguardavam sua vez de serem apresentados. As mães do samba, depoimentos de personalidades do ritmo paulistano, os grandes carnavalescos do Brasil, ganharam espaço nas páginas escritas por Dona Cida. As obras foram publicadas respectivamente em 2012, 2014 e 2017.

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A Barroca da Zona Sul foi a escola em que Dona Cida mais participou ao longo de sua trajetória. É dessa agremiação, inclusive, que está o enredo que marcou a sua história “Que Moda é Essa?”, de 1991. Neste ano, ela foi campeã do grupo de acesso - última data, inclusive, em que a escola levou o título em tal classificação.

 

 

- Imaginei o enredo contando a moda através dos tempos. Contar o período tempo Luís XV, de toda essa passagem da história. Eu achei que seria assim um Carnaval deslumbrante. Pouco tempo depois entrou o Plano Collor e muitas firmas fecharam. Não foi fácil fazer as fantasias.

 

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Foi também na Barroca em que Dona Cida fez seu último enredo, que foi para a Avenida em 2002. Com o tema “Os Jardins da Verde e Rosa”, a carnavalesca contou a história do Jardim Botânico de São Paulo.

 

Sobre o significado do samba para a carnavalesca, Dona Cida vê o ritmo e o trabalho como missão de vida. Com olhar sonhador e ainda esperançoso, conta que gostaria muito de ver um Museu do Carnaval instalado na cidade. Para 2019, suas pesquisas não param: ela pretende trazer relatos de fatos históricos do Carnaval, em um novo livro.

 

Quase no fim da conversa, ela lembra da trajetória da mulher dentro de uma escola de samba. A figura feminina chegou a ser barrada, mas nos dias atuais, Dona Cida reforça a presença das mulheres à frente do Carnaval - como Rosemeire Marcondes, da Lavapés, e Angelina Basílio das Rosas de Ouros.

 

E mais: da proibição ao cargo de presidência, a carnavalesca ressalta uma das figuras importantes do Carnaval: a porta-bandeira. A importância é atribuída pois, ao desempenhar esse papel, a porta-bandeira fica responsável por levar o maior símbolo da escola para a Avenida - o pavilhão.

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Tum tum… tum tum.. tum tum…
o som do coração pode ser facilmente confundido com a batida dos instrumentos de percussão, que esperam para entrar na Avenida.
No começo, apreensão. Aflição. Inquietação… tum tum… tum tum...

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Quando é autorizado e cada instrumento começa a ser tocado, a tensão se esvai pelo ar. Os sons do surdo (de primeira, segunda e terceira), do tamborim, do repique, do chocalho, da caixa,

da cuíca, do agogô, do reco-reco, do pandeiro e do triângulo começam a fazer festa. Todos os componentes da escola seguem o som da bateria e, talvez, essa seja a espinha dorsal
do samba-enredo.

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batuque do empoderamento

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Das 14 escolas de samba presentes no Grupo Especial de São Paulo, apenas uma possui uma bateria inteiramente formada por mulheres. Esse time, reúne cerca de 30 participantes que representam a escola Águia de Ouro,
localizada na zona oeste da capital paulista, em shows e apresentações durante todo o ano. A formação está em vigor desde o final da década de 1980.

 

Para uma das integrantes da comissão de Carnaval da escola, Elizete Rosa Trindade Carvalho, mais conhecida por Beth Trindade, de 56 anos, ter uma bateria só de mulheres é uma glória. “Eu acho que é um empoderamento.
A mulher é um ser maravilhoso e é tão forte quanto o homem”
, disse.

 

Porém, é importante deixar claro que nem todas as meninas que participam dessa bateria majoritariamente feminina vão para a Avenida tocar no dia do carnaval. A escola possui uma bateria mista com 200 pessoas, em média, que tem muito mais presença masculina em cena. Para uma das participantes, Leticia Thais Silva, de 22 anos, que já integra a bateria mista tocando chocalho (mais conhecido como ganzá) há oito anos, isso não é um problema. Para ela, “lugar de mulher é onde cada uma quer estar”, e a presença das mulheres tocando “vai de acordo com a  luta e a vontade de cada uma”.

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Em dado momento, Letícia participou da bateria feminina, mas o prazer dela é representar a escola nos dias de desfiles. “A sensação [de participar] é indescritível. É uma coisa surreal. A energia do lugar toma conta da gente e é inevitável não se emocionar, não chorar”, conta. Ela não mede palavras ao convidar novas mulheres que pensam em ser instrumentistas “Vocês irão fazer a melhor escolha da vida. É uma sensação indescritível de poder tocar um instrumento. Eu me sinto a pessoa mais feliz do mundo... é um amor inexplicável”, finaliza.

 

Para quem quer participar da bateria, basta entrar em contato com a escola e passar por uma peneira. A responsabilidade de ser um integrante da bateria no Carnaval é grande. Com mérito e esforço para representar, o integrante tem que se esmerar na Avenida para a escola pontuar e levar a melhor.

nas avenidas com porta- bandeira

Por trás de um grande espetáculo sempre há uma grande equipe e uma grande produção. Segundo a Associação Cultural Educativa Escola de Mestre-Sala, Porta-Bandeira e Porta-Estandarte "Cisne do Amanhã",
 a confecção de uma fantasia carnavalesca para Porta-Bandeira demora cerca de dois meses para ser finalizada.

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nas noites,

nos bares

A luz da lua se confunde com a luz das ruas de um centro velho iluminado. 

Em cada esquina uma magia.

Quem se veste de noite, respira um ar diferente. Sereno... 

Solidões compartilhadas viram festa.

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E o cenário perfeito está dentro da São Paulo que não dorme.

PING PONG

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Treze mulheres, uma missão: lutar pela inclusão da mulher em diversos setores da sociedade, em especial no samba. Há sete anos na estrada, o “Amigas do Samba” é um grupo de resistência feminina no contexto musical. E vem provando em sua trajetória que o samba é de todos, principalmente das mulheres, feito por elas e para elas. Com a missão de respeitar, defender e lutar por todas.

1. Quando foi que o grupo se consolidou e o que motivou vocês a se juntarem?

(Francisca): O grupo se formou em agosto de 2011. Antes havia um grupo chamado Amigos do Samba que os membros eram homens e mulheres, mas, em um dado momento, começou um desafio das mulheres se juntarem e formarem o próprio grupo, sem os homens. Por muito tempo a presença masculina foi importante porque não tinham tantas mulheres que tocavam instrumentos, mas depois que as meninas começaram a aprender, nos desprendemos e formamos o grupo Amigas do Samba.

2. Vocês veem dificuldades ao tocar por ser um grupo formado apenas de mulheres?

(Sharylaine): Um pouco. Há uma dificuldade no sentido de que nem sempre as mulheres vão estar presentes, por conta de filhos e da maternidade, de estudos e questões pessoais.

(Francisca): A mulher tem múltiplos papéis. Divide o tempo entre dona de casa e de deve ter o tempo para ser mulher. É mais nesse sentido.

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3. Já sofreram algum preconceito por serem mulheres em rodas de samba? Como foi o começo, ano que ainda não se falava de empoderamento feminino?

(Sharylaine): No começo as dificuldades eram maiores. Tínhamos mais problemas de nos posicionar em frente aos homens. Quando tocávamos com eles, eles que queriam comandar as rodas de samba dizendo o que e como deveríamos fazer as coisas. Nós tínhamos que provar que sabíamos fazer sem nem ter feito ainda. Mas hoje, quando nos apresentamos, às pessoas já ficam sabendo como vai ser, que temos repertório e nem sempre vamos tocar as músicas que todo mundo quer ouvir. Provamos o que queremos com o nosso samba, então todos sabem qual é a proposta.

(Francisca***): Os nossos amigos que tocam em outros grupos nos cobram por não irmos aos eventos deles, mas eles também não vão aos nossos, não divulgam, nem nada.

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4. Como é a rotina de vocês? Tocam em algum lugar fixo?

Não tocamos em lugares fixos. Vamos aos eventos que nos chamam. Fechamos eventos diferentes, participamos do Ação Educativa (Uma organização de documentação, na década de 90. Mas apenas em 2000 eu cheguei lá com outros parceiros para propor atividades culturais, inicialmente era só Hip Hop. Então dentro da educação continuada eles faziam atividades voltadas para a juventude, a partir disso começaram a fazer ações de samba e, a princípio todo mês tinha uma roda de samba, depois todo mês de março se tornou o mês das mulheres e nós organizamos e realizamos o evento).

(Francisca): Como selecionamos: [Se o evento] tiver ligação à [nossa] temática. Nós somos convidadas para participar de ações sociais, ocupações e tudo com ligação a nossa temática se não, não tem sentido. A gente prioriza o conteúdo, não importa se a composição ou o cantor são conhecidos.

 

5. Vocês trabalham hoje apenas com samba ou dividem a rotina com outras atividades?

(Sharylaine ***): A maioria das meninas divide o tempo com outras atividades. Têm professoras de educação infantil, de inglês, gente que trabalha com terapia ocupacional, arquiteta e trabalha com várias coisas diferentes, auxiliar administrativa, atriz, etc.

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6. Sabemos que vocês compõem letras que falam sobre a violência contra a mulher. O que inspirou vocês a cantarem sobre isso?

(Sharylaine): Mulheres não eram contempladas nas rodas. Escolher o repertório da violência contra a mulher e machismo foi colocar a questão na rua. O foco é nessa temática porque nós existimos. Nosso grupo não é de profissionais da música. São mulheres que gostam de samba e que abraçaram a causa. E tem luta por trás dessa música que apresentamos e queremos despertar consciência. Queremos acabar com a violência

 

7. Como vocês se imaginam daqui há 10 anos?

(Francisca): 10 anos?? (risos).... Esperamos que a violência não exista mais e que assim possamos só cantar alegria. Mas daqui 10 anos vamos continuar lutando. Temos um plano, que está sendo adiado há algum tempo, que é abrir uma ONG para dar curso de formação de samba, ajudar as meninas. Não desistimos dessa ideia.

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8. Quais instrumentos vocês tocam?

(Francisca e Sharylaine): Violão, cavaquinho, cavaco, Agogô, reco-reco, tan-tan, tamborim, pandeiro.

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9. Como veem o samba hoje?

(Francisca) Pergunta bem ampla (risos).... Na perspectiva feminina, eu vejo que tem muita mulher engajada na cultura do samba, tocando, cantando, compondo. Isso é muito importante. Tem movimentação muito forte. A mulher tem ocupado seu espaço no samba desde 2015/2016.

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10. E as misturas que são feitas com o samba: sambanejo, funknejo?

(Sharylaine): As linguagens sempre se conversam. Por exemplo, rap com samba. Eu faço essa brincadeira desde 2010/2011. Para as misturas deve entender qual é a raiz dessa cultura e como dialoga com outras. Não vejo problema misturar desde que diga qual é a origem. Deve falar de onde vem.
(Francisca): A preocupação é muito  grande em dizer de onde vem. A nossa preocupação é de não se perder a nossa cultura.

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11. Vocês são sempre as atrações principais ou já ocorreu de vocês só abrirem shows de outros grupos, principalmente, masculinos?

(Sharylaine): Nunca aconteceu não [de abrir shows de outros grupos]. Quando vamos nos apresentar somos sempre as únicas. Somos as principais mesmo.  

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12. Vocês têm um CD?

Sim. Gravamos um EP com 3 músicas autorais e ele é um verdadeiro panfleto. É um orgulho para nós, porque depois das músicas, tem diversas informações sobre a Lei Maria da Penha, muitas informações para as mulheres. Fizemos pesquisa para poder colocar esse conhecimento.

 

Rapidinhas:

1. Uma inspiração – Dona Ivone Lara

2. Um grupo só de mulheres – Maria Navalha (?)

3. Uma palavra que define o samba – Amor, dedicação, resistência. É o melhor livro de história que o Brasil pode ter.

4. Um instrumento – Microfone.

5. Maior conquista do grupo – Estarmos unidas há 7 anos, resistindo, tocando no coração das pessoas e sermos referência para outras mulheres.

7. Maior dificuldade – ampliar o público, para que nossa mensagem chegue para mais pessoas, porque sabemos do potencial da mensagem que passamos.

 

 

O grupo é formado por

Franscisca - Franzalia (51), Sharylaine (49), Mariana Mattar (35), Aline Milhomens (29), Maihte Barros (65), Sueli Vargas (57), Cris do Samba (51), Tia Cida (77), Marina Rago (32), Érica Lopes (21), Yordanka Medina (44), Ribeka Suzuki (29), Jana Inocêncio (46), Clodd Dias (41).

Detalhes: Sala de música, noite de lua cheia, palco dentro da sala tem o minhocão de fundo na região da Santa Cecilia, maioria das meninas estavam de rosa (bem feminino), se saia longa ou rasteirinha (despojado). Aquela conversa, além de entrevista, foi um momento para elas escutarem e entenderem um pouco mais da trajetória uma das outras

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Uma história trilhada pelo cavaco:
do choro ao samba.

Ao entrar na casa de Ana, o único ar possível para respirar é o samba. Paredes coloridas, texturizadas, quadros pintados à mão por pessoas da Bahia ao oeste, além de instrumentos à leste. Tantos DVDs e discos de vinil à norte e um grande sofá ao sul, de onde é possível admirar o Centro da cidade de São Paulo. Esse é o sentido que move Ana Cláudia César: o ritmo do choro e o agito do samba.

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Apenas uma noite no bairro de Pinheiros foi suficiente para que o seu dom fosse reconhecido: após a sua

primeira “canja” com o Carioca, com quem transpunha os sons do violão para o cavaco, ela foi imediatamente contratada.

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     Economizei alguns anos aprendendo com ele,
porque ele tinha muito repertório e me possibilitou
crescer muito rápido.

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Os olhos que brilham paixão e vontade, inspirados pelo compositor Valdir Azevedo, mestre do cavaquinho, levaram a jovem desbaratinada a acreditar - com teimosia e foco, típicos de uma mulher virginiana – que o sustento pode vir de um instrumento de quatro cordas.

 

E não é qualquer corda. Por isso, não é para qualquer um. O cavaco é composto de cordas de aço, famosas por tirar o sangue dos dedos de quem o toca. Por essas e outras que ele é destinado a quem realmente sabe o que quer, trilhando o caminho com audácia e determinação, características marcantes na personalidade de uma das primeiras mulheres a ocupar esse espaço.

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No caso de Ana, essa relação foi ainda mais além. Assim que ingressou na faculdade de música, ao mesmo tempo em que tocava na noite paulistana, percebeu que o espaço do choro era majoritariamente masculino. Um ambiente fechado e não muito atraente para quem quer aprender ou é iniciante. Assim, incomodada com a situação, lhe surgiu uma ideia que seria o próximo objetivo a ser alcançado: criar um grupo feminino de choro. O caminho a ser trilhado foi árduo e Ana tinha convicção disso, mas sabia também que o coração queria travar essa luta.

 

A ideia já tinha até nome, mas ela não imaginava que seu sonho percorreria o mundo. “As Choronas” nasceram em 1995, impulsionadas pelo desejo inquieto de Ana Cláudia em procurar integrantes da faculdade que aceitassem fazer parte deste projeto. E conseguiu recrutar outras quatro mulheres de personalidade forte e de autoestima para enfrentar os padrões -  o que conta com orgulho que foi o feito mais importante da sua vida – tendo em mente a dimensão de sua representatividade no meio musical.

 

O grupo participou de programas importantes da mídia brasileira, como o do Jô Soares, além de gravar quatro discos durante seus 23 anos de história. E por falar em histórias, muitas delas estão relacionadas ao cenário machista da época, até quando se tratava de elogios - em um artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, um jornalista rotulou: “Elas tocam como homens”. Essa foi apenas uma das críticas que o grupo "As Choronas” vivenciou, mas que considerou construtiva diante do pioneirismo no gênero musical.

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Quanto mais falam das Choronas, mais fazemos sucesso.

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Mergulhada nas conquistas e na sua garra, Ana foi convidada a ministrar o primeiro curso de formação de cavaquinho na ULM (Universidade Livre de Música), onde atuou por 15 anos. Vinculado ao Centro Tom Jobim, o espaço que oferece cursos, shows e workshops possibilitou à profissional o reconhecimento por formar aproximadamente 55 instrumentistas. Muitos desses alunos contam com alegria o que aprenderam com Ana Cláudia César, fazendo brilharem os olhos da professora. Desse total, apenas 10% das pessoas formadas eram mulheres e apenas duas tiveram o seu valor reconhecido. Assim, o orgulho se esvazia em incômodo. Naquela noite, apenas esse dado fez o silêncio reverberar pela sala.

 

Apesar de saber que um lado é árduo, sempre focou no outro: o  gratificante. A trajetória de Ana com o choro foi um marco. Não só para a vida dela e para as demais integrantes, mas para a música brasileira. No entanto, o som do cavaco sempre a remeteu para uma antiga paixão: o samba.

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O samba é mais permissivo, deixa a roda mais aberta
para quem quiser chegar. O samba agrega,
ele tem essa força cultural de ser a voz de quem
não tinha. Quando eu estou no samba, tem uma coisa
dentro de mim que não consigo explicar.
Eu fico tão... feliz, ele me domina,
toma conta de mim.O samba é o Brasil.

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O som da percussão toca sua alma e arrebata o coração. Assim, Ana decidiu conciliar o seu trabalho no “As Choronas” com o samba em um grupo também composto apenas por mulheres - o TPM. Depois de cinco anos de um repertório autoral, foi difícil conciliar a agenda com a repercussão da primeira turnê do “As Choronas”, e assim, Ana chega ao ponto final do grupo TPM.

 

O samba ainda resistiu em sua vida por outros caminhos. Hoje, além de dar aulas de música para crianças de cinco a 12 anos, e se dedicar ao grupo “As Choronas”, ela também toca de forma esporádica nos grupos mistos Donas do Pedaço e Esperando o Trem.

 

Sempre dividindo atenção entre os dois mundos ao som do cavaquinho foi com o choro que obteve retorno financeiro e estabilidade econômica para a sua maior conquista pessoal: comprar uma casa em Perdizes, localizada na região mais alta da cidade e mais próxima do seu hobby, que é frequentar os espaços que promovem arte e cultura.

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 O contato com a arte e com o que ela proporciona nos transforma em pessoas melhores, em seres humanos maiores.

 

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Desejando o que queria com o coração, a vida já ia tratando de realizar. Agora os planos de Ana alcançam voos mais altos. Para ela, o futuro está nos ares internacionais. Ela quer mesmo uma companheira para cair na estrada e ir tocar pela América Latina, Argentina, Paris e tantos outros mundos para desbravar com a música.

 

A musicista acredita que o Brasil anda em tempos sombrios. E para o coração de quem sempre transbordou paixão, para o espírito de guerreira, idealista, empoderada, à frente do seu tempo e expansiva, talvez aqui já não tenha tanto espaço. Talvez esteja na hora da amante do samba e da música colocar a mochila nas costas e trilhar novas experiências, levando a arte brasileira mundo afora.

BixigaReportagem
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quem tem a marca do samba nasceu para ganhar o mundo

Samba de Dandara: um grupo formado apenas por mulheres que, em seu repertório, exaltam as grandes sambistas da velha guarda e compõem letras de questionamento e reflexão social.

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Boteco Dona TatiReportagem
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“Eu sou e vou
até o fim cantar”

Em noite de lua cheia, o viaduto Minhocão poderia ser apenas uma passagem de carros e memórias, mas todas as segundas-feiras esse coração de São Paulo ganha um sentido diferente para existir, pulsar e dançar ao som
das Amigas do Samba. Mais que um grupo, é um encontro de histórias que, há sete anos, une 14 mulheres.
Por meio da arte e da música, elas usam o poder da melodia do samba e de suas letras para lutar
pela inclusão da figura feminina nos mais diversos setores da sociedade.


A mistura de idades – a mais nova tem 21 e a mais velha 77 – fazem as ideias de empoderamento feminino caminharem
no trabalho do grupo, seja enquanto mulheres ou sambistas. As Amigas do Samba são formadas por Mariana Mattar,
Aline Milhomens, Maiehte Barros, Sueli Vargas, Cris do Samba, Tia Cida dos Terreiros, Marina Rago, Érica Lopes,
Yordanka Medina, Ribeka Suzuki, Jana Inocêncio, Clodd Dias, Franscisca Franzalia e Sharylaine Sil.

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Para participar do bate-papo, essas duas últimas integrantes foram escolhidas pelo grupo e narraram a missão
e trajetória das Amigas do Samba. Sharylaine e Francisca são as mais antigas na formação.

Compartilharam também a história e desafios enfrentados pelo caminho. Enquanto eram entrevistadas,
usavam suas vestes cor de rosa, algo como um uniforme. As roupas remetem a sutileza sempre aplicada à mulher,
o que contrapõem à força, garra e resistência que levam no seu samba.

Quando foi que o grupo se consolidou e o que motivou
Vocês a se juntarem?

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(Francisca): O grupo se formou em agosto de 2011. Antes havia um grupo chamado Amigos do Samba que os membros eram homens e mulheres, mas, em um dado momento, começou um desafio das mulheres se juntarem e formarem o próprio grupo, sem os homens. Por muito tempo a presença masculina foi importante porque não tinham tantas mulheres que tocavam instrumentos, mas depois que as meninas começaram a aprender, nos desprendemos e formamos o grupo Amigas do Samba.

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Vocês veem dificuldades ao tocar,
Por ser um grupo formado apenas por mulheres?

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(Sharylaine): Um pouco. Há uma dificuldade no sentido de que nem sempre as mulheres vão estar presentes, por conta de filhos e da maternidade, de estudos e questões pessoais.

(Francisca): A mulher tem múltiplos papéis. Se divide entre o trabalho de dona de casa e em ter o tempo para ser mulher. É mais nesse sentido.

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Já sofreram algum preconceito por serem mulheres em rodas de samba? Como foi o começo, ano que ainda não se falava de empoderamento feminino?

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(Sharylaine): No começo as dificuldades eram maiores. Tínhamos mais problemas de nos posicionar em frente aos homens. Quando tocávamos com eles, queriam comandar as rodas de samba dizendo o que e como deveríamos fazer as coisas. Nós tínhamos que provar que sabíamos fazer sem nem ter feito ainda. Mas hoje, quando nos apresentamos, as pessoas já ficam sabendo como vai ser, que temos repertório e nem sempre vamos tocar as músicas que todo mundo quer ouvir. Provamos o que queremos com o nosso samba, então todos sabem qual é a proposta.

(Francisca): Os nossos amigos que tocam em outros grupos nos cobram por não irmos aos eventos deles, mas eles também não vão aos nossos, não divulgam, nem nada.

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Como é a rotina de vocês? Tocam em algum lugar fixo?

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(Sharylaine): Não tocamos em lugares fixos. Vamos aos eventos que nos chamam. Começamos a participar do Ação Educativa [uma organização que desenvolve atividades culturais em ambiente escolar] na década de 90. Atualmente, promovemos aos meses de março em comemoração ao Dia Internacional da Mulher.

(Francisca): [Avaliamos se o evento] tem ligação com a [nossa] temática. Mas nós somos convidadas para participar de ações sociais e ocupações. A gente prioriza o conteúdo, não importa se a composição ou o cantor são conhecidos.

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Vocês trabalham hoje apenas com samba
Ou dividem a rotina com outras atividades?

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(Sharylaine): A maioria das meninas divide o tempo com outras atividades. Têm professoras de educação infantil,
de inglês, gente que trabalha com terapia ocupacional, arquiteta e trabalha com várias coisas diferentes,
auxiliar administrativa, atriz etc.

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Sabemos que vocês compõem letras que falam
Sobre a violência contra a mulher. O que inspirou vocês
cantarem sobre isso?

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(Sharylaine): Mulheres não eram contempladas nas rodas. Escolher o repertório da violência contra a mulher e machismo foi colocar a questão na rua. O foco é nessa temática porque nós existimos. Nosso grupo não é de profissionais da música. São mulheres que gostam de samba e que abraçaram a causa. E tem luta por trás dessa música que apresentamos. Queremos despertar consciência e acabar com a violência.

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Como vocês se imaginam daqui há 10 anos?

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(Francisca): 10 anos? (risos)... Esperamos que a violência não exista mais e que assim possamos só cantar alegria. Mas daqui há 10 anos vamos continuar lutando. Temos um plano, que está sendo adiado há algum tempo, que é abrir uma ONG para dar curso de formação de samba, ajudar as meninas. Não desistimos dessa ideia.

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Quais instrumentos vocês tocam?

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(Francisca e Sharylaine): Violão, cavaquinho, cavaco, agogô, reco-reco, tantan, tamborim e pandeiro.

Como veem o samba hoje?

(Francisca): Pergunta bem ampla (risos).... Na perspectiva feminina, vejo que tem muita mulher engajada na cultura do samba, tocando, cantando, compondo. Isso é muito importante. Tem movimentação muito forte. A mulher tem ocupado seu espaço no samba desde 2015 e 2016.

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E as misturas que são feitas com o samba,
como sambanejo, funknejo?

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(Sharylaine): As linguagens sempre se conversam. Por exemplo, rap com samba. Eu faço essa brincadeira desde 2010, 2011. Para as misturas, deve-se entender qual é a raiz dessa cultura e como dialoga com outras. Não vejo problema misturar desde que diga qual é a origem. Deve falar de onde vem.

(Francisca): A preocupação é muito grande em dizer de onde vem. A nossa preocupação é de não se perder a nossa cultura.

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Vocês são sempre as atrações principais ou já ocorreu de só abrirem shows de outros grupos, principalmente masculinos?

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(Sharylaine): Nunca aconteceu, não [de abrir shows de outros grupos]. Quando vamos nos apresentar, somos sempre as únicas. Somos as principais mesmo.  

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Vocês têm um CD?

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(Sharylaine): Sim. Gravamos um EP com três músicas autorais e ele é um verdadeiro panfleto. É um orgulho para nós, porque depois das músicas, têm diversas informações sobre a Lei Maria da Penha, muitas informações para as mulheres. Fizemos pesquisa para poder colocar esse conhecimento.

1. Uma inspiração

 Dona Ivone Lara

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2. Um grupo só de mulheres

Maria Navalha [grupo de samba]

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3. Uma palavra que define o samba  

Amor, dedicação, resistência. É o melhor livro de história que o Brasil pode ter.

 

4. Um instrumento

Microfone

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5. Maior conquista do grupo

Estarmos unidas há sete anos, resistindo, tocando no coração das pessoas e sendo referência para outras mulheres.

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6. Maior dificuldade

Ampliar o público, para que nossa mensagem chegue para mais pessoas,
porque sabemos do potencial da mensagem que passamos.

Kolombolo: Onde as raízes

do samba paulista sobrevivem

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Em meio às badaladas ruas do tradicional bairro de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, uma pequena porta - aparentemente residencial - se abre para que o samba permaneça vivo e ecoando no coração dos paulistanos.

Por dentro, o Kolombolo Diá Piratininga é revestido e decorado com bandeiras, fotos e quadros de importantes sambistas de São Paulo, como Adoniran Barbosa. Instrumentos musicais e imagens de orixás para os quais o café é servido em primeiro lugar, marca a presença da raiz e tradição. Ao se misturarem com o som da batucada, esses aspectos reverberam a resistência de uma cultura que, por muito tempo, foi alvo da tentativa de ser calada.

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O espaço foi fundado em 2002 por Renato Dias, Max Frauendorf e Lígia Fernandes, que a partir de uma viagem para a Bahia, perceberam o quanto São Paulo não procura conhecer sua própria identidade – como faz o povo baiano, que cultua sua história com maestria.  Assim o Kolombolo foi idealizado, com o objetivo de fomentar, valorizar e divulgar as raízes do samba paulista, sendo um grêmio recreativo nos moldes dos antigos cordões carnavalescos.

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Apesar de haverem fundadores, hoje a agremiação é mantida por um coletivo que se divide para promover ensaios, encontros, pesquisas, produções fonográficas, apresentações e oficinas, que acontecem neste sobrado carregado de fé e decorado pelas cores e simbologias da cultura afro-brasileira. Uma dessas organizadoras é Aninha Batucada, compositora, intérprete, cantora, musicista e articuladora cultural.

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“O Kolombolo é um espaço de luta, que nos dá o exemplo do quanto a gente precisa conhecer e respeitar a nossa história. É um lugar que nos propõem diariamente pesquisar sobre isso, reconhecer os que vieram primeiro. É um espaço que representa muito amor à nossa cultura e ao samba”,
explica Aninha Batucada.

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Um dos muitos eventos culturais promovidos pelo Kolombolo é o “Mulheres em Roda”, projeto que acontece bimestralmente com o intuito de informar e debater questões importantes da vida feminina, com a participação de especialistas que abordam temas como parto humanizado e ginecologia natural, por exemplo.

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Após a roda de conversa que dura cerca de 2 horas, não poderia faltar a tradicional roda de samba, organizada, tocada e cantada apenas por mulheres que, para além disso, também estudam e ensaiam músicas compostas por sambistas paulistanas – tanto da vanguarda, quanto as que estão em ascensão nos dias atuais.

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“O samba é um ato político. Ele representa um lugar de resistência - historicamente falando. Um lugar de ancestralidade. Uma reflexão sobre o que a gente é, enquanto indivíduos; representa muita coisa para além de diversão, porque o samba é coisa séria. Mas não é porque é sério, que a gente não pode sorrir e ser feliz. O samba recebe bem todo mundo, sempre me recebeu muito bem e sempre vai receber bem a todos que quiserem chegar.”

CompositorasReportagem
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produção

SER MULHER NO SAMBA É...

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ARIEL CORREIA

Um grito de liberdade. Um respiro em meio ao caos e as pressões da sociedade.
O samba é um verdadeiro símbolo de resistência e dá voz às mulheres,
que vivem esta luta diária.

Universidade Metodista de São Paulo

Comunicação Social - Jornalismo
6º Semestre 

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